terça-feira, 31 de julho de 2012

CONCURSO PÚBLICO E A TERRA PROMETIDA

Podemos dizer que o concurso público, com todas as suas vantagens, é a Terra Prometida: status, estabilidade, bons salários, aposentadoria diferenciada e a oportunidade de servir à coletividade, e, por isso, faz do país um bom lugar, mais justo e decente, um lugar melhor para vivermos, nós e nossos filhos. O concurso é a chance de fazermos parte da administração pública, de ajudarmos o próximo por dever de ofício, com remuneração garantida pelo governo. Mudar nossa vida... e mudar a vida de quem for ser atendido por nós, no serviço público.
Nesse passo, contudo, é preciso alertar: toda terra prometida tem um deserto antes, ou seja, para chegar lá vai ser preciso algum período de peregrinação. Repassando: o povo de Israel precisou sair do Egito, cruzar o Mar Vermelho e passar 40 anos no deserto, para chegar a um lugar aprazível onde era muito melhor viver.
Acredito que você, concursando, pode aprender muito com a história dos israelitas e usar a experiência deles para passar em concursos. Comecemos pela saída do Egito. O povo de Israel vivia no Egito e lá foi transformado em escravo. Seu crescimento populacional passou a ser visto como uma ameaça aos egípcios. A solução foi simples: matar todos os recém-nascidos do sexo masculino, lançando-os ao Nilo.
A mãe de Moisés, um recém-nascido judeu, colocou-o num cesto e pediu que a irmã dele, Miriã, o vigiasse de longe. O cesto foi encontrado pela filha do Faraó e Miriã, muito esperta, apresentou-se e perguntou se não queriam uma babá. Moisés, assim, cresceu sob a marca de duas culturas. Já adulto, tomou a defesa de um judeu que estava sendo açoitado, acabou matando um soldado egípcio e fugiu para o deserto.
Foi no deserto que Deus apareceu a Moisés, no meio de um arbusto que, mesmo pegando fogo, não se consumia. E ali ele recebeu a missão de levar o povo de Israel do Egito para Canaã, a Terra Prometida, onde manava leite e mel.
Assumindo o encargo, Moisés voltou para o Egito e apresentou ao seu povo os planos de Deus. Engana-se quem imagina que ele foi bem recebido. Ao contrário, foi visto por seu povo com desconfiança. E, perante os egípcios, como traidor. Traidor... e tolo. Afinal, Moisés abriu mão dos privilégios de ser considerado filho de Faraó. Daí em diante, todos conhecem a história: vieram as dez pragas e finalmente o povo foi autorizado a sair do Egito.
Tão logo os judeus tinham saído, o Faraó muda de idéia e determina ao seu poderoso exército que persiga os judeus. Nessa hora, os retirantes estavam acampados às margens do Mar Vermelho. Ao saberem da aproximação das tropas egípcias, muitos judeus reclamaram de Moisés dizendo que se era para morrer no deserto, melhor teria sido nem sair do Egito. Outros quiseram se suicidar, outros, se render e voltar para o regime de escravidão, que tinha lá suas comodidades.
Nessa hora, pressionado por todas essas circunstâncias, Moisés começa a orar a Deus, pedindo socorro. Deus, então, dá uma “bronca” em Moisés, dizendo: “Por que clamas a mim, Moisés? Diga ao povo de Israel que marche. Estende a tua vara, toca o mar, que as águas se abrirão”. Dito e feito. Moisés passa com o povo pelo meio do mar e salva-se do exército inimigo. E a história não acabou aí. Os judeus peregrinaram quarenta anos no deserto do Sinai antes de chegar à Terra Prometida. Foi um tempo de dureza, de sofrimento, de angústia e incertezas. E ao chegar lá, ainda foi preciso conquistar a terra.
Continuando: o que a história da páscoa pode dizer sobre passar em concursos? Muitas coisas. Separei 7 para você.
Primeiro: É preciso ter um plano. É preciso imaginar a Terra Prometida e querer ir para lá. O primeiro passo é sonhar. Sem uma meta ninguém faz nada.
Segundo: As pessoas podem não acreditar em você e nem em seus planos. Problema delas. Você tem que acreditar em si mesmo e no projeto, mesmo que seja o único, ou melhor, mesmo que sejamos só nós dois: você mesmo e o autor desse artigo. Alguns podem achar você até um tolo, pelo preço que se dispôs a pagar. Não se impressione. Tolo é quem fica parado.
Terceiro: Você vai precisar, como Moisés, de abrir mão de alguns privilégios, de algum comodismo. Vai ter que abrir mão de uma série de atitudes e comportamentos contraproducentes. Não dá para passar em concurso agindo como se fosse filho de um rei... É preciso muito esforço, disciplina, dedicação e, claro, estudo.
Quarto: Não aja como aqueles judeus que reclamaram de Moisés. Eles queriam que Moisés resolvesse todos os problemas! Eles não estavam sequer ajudando quem liderava o processo de mudança. Assim, pare de reclamar dos outros e faça alguma coisa. Assuma o papel de protagonista da própria história. Jamais aceite a comodidade que a paralisia de projetos e de iniciativa oferece num primeiro momento.
Quinto: Não aja como Moisés, jogando toda a responsabilidade para Deus. Deus se interessa por você e vai operar milagres (afinal, Ele é quem abriu o mar), mas pare de ficar só com discursos e orações (só com projetos). É preciso tocar o mar para que ele se abra. É preciso abrir o mar, os livros, as provas etc. Passar em concursos é para quem tem sonhos... e tarefas. Faça sua parte. Marche!
Sexto: Antes de chegar a Canaã, havia um deserto. Todo ritual de passagem, em especial de passagem de uma situação ruim para um melhor, exige um período de preparação e sacrifícios. O período de estudo, disciplina, muito estudo, muitos simulados etc, o próprio período de aprender a se preparar para concursos, tudo isso faz parte de um longo deserto que você precisa superar antes de chegar ao seu objetivo. Sem deserto, sem terra Prometida. Mas com um detalhe: asseguro que não vai ser preciso quarenta anos...
Sétimo : A Terra Prometida estava lá para os judeus, e estará lá para você. Tenho certeza que muitas vezes os judeus, que peregrinavam há anos no deserto, devem ter desanimado. Você, que está há algum tempo nesse projeto já deve ter passado por momentos difíceis, ou pode estar em um deles exatamente agora. O que dizer sobre isso? Colega, a Terra Prometida continua lá! Esperando-lhe! Faça sua jornada que você chega, não desanime. Calor? Cansaço? Sede? Tudo isso só vai realçar ainda mais sua vitória, que chegará se você fizer o mesmo que o povo judeu fez no deserto: caminhar. Caminhar na direção certa, caminhar com a ajuda de Deus, mas, inexoravelmente, caminhar até chegar. Eu tenho certeza que você chegará ao seu destino, no tempo certo, após sua dose de deserto e de caminhada.
William Douglas
Juiz Federal, professor universitário e autor de vários livros sobre concurso público.

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